Nunca tiveram muito a se dizer
Não se falavam. Desde a noite de núpcias, quando olhando o corpo recém-possuído ele se expressara de forma pouco nobre, ela deixara de lhe dirigir a palavra.
Em silêncio, sem que jamais um se dirigisse ao outro, viveram juntos 50 anos. Data em que seus filhos, netos, noras e genros organizaram grande festa comemorativa, reunidos todos para enaltecer os patriarcas. Erguia-se justamente o brinde, de pé a família ao redor da grande mesa, quando pela primeira vez, em voz alta e clara, ela o chamou pelo nome.
C.
omo uma bala, como uma faca, a palavra enterrou-se no peito do homem, abrindo dupla ferida. Pois embora sendo seu nome, pronunciado por aquela boca não o representava, a ele que nunca mais dera à mulher o direito de nomeá-lo. Assim ela o desrespeitava frente à descendência.
Pálido, apoiou-se com as mãos espalmadas sobre o tampo de mármore, e num impulso assassino revidou, sibilando entre dentes o nome da mulher.
Ela cambaleou, levou a mão à boca como quem ampara uma golfada de sangue. Mas já a família batia palmas, e a sala toda estremecia ao som do coral doméstico que entoava Parabéns Pra Vocês.
Marina Colasanti -in Contos de Amor Rasgados
Jô Angelo, gostaria convidá-lo para o Concurso: Um Conto de Livro, que dará três livros:
ResponderExcluir- Coleção as Brumas de Avalon;
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