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9 de agosto de 2010

Para não lhe ver partir ...

Certos escritos que às vezes encontro em blogs ou sites de escritores desconhecidos são de rara beleza. Hoje colocarei um aqui que achei muito lindo. Foi escrito por Stive Ferreira. Leiam que vale a pena!

Para não lhe ver partir


Da primeira que vez que meus olhos encontraram os seus, eu pude perceber, eu fui capaz de saber sem duvidar, que era você quem me acompanharia por onde quer que eu fosse. Mas eu sabia, lembrava-me de ter ouvido certa vez que eu nunca poderia me mostrar como eu realmente era, pois você poderia se assustar e partir, e eu não queria lhe ver partir.
Então, para não lhe ver partir, aprendi a fingir e a dissimular. Ao invés de mostrar quem eu sou, mostrei para você aquilo que me fizeram acreditar que você gostaria que eu fosse. Pois eu ainda me lembrava de certa vez ter ouvido alguém falar que força é tudo aquilo que é preciso para impressionar. Então mostrei para você a força que eu tinha e a que eu não tinha. E diante de minha força você não foi capaz de me negar o seu amor nem tão pouco seu calor. E com o sorriso confiante de quem sabe que conseguiu o que sempre almejou, dizia para quem quisesse ouvir que eu era feliz. E um anjo desceu dos céus para contemplar um novo amor que ao mundo florescia.
Porém, quando um novo dia chegou, meus braços não puderam alcançar os seus; o seu gosto era apenas uma lembrança perdida na distância que se entrepôs entre você eu. E me vi a vagar e divagar pelas ruas, me perguntando: Por quê?

Da segunda vez que meus olhos encontraram os seus, eu ainda sabia, eu ainda sentia que entre nós havia algum tipo de ligação. Um elo que o tempo não fora capaz de partir. Mas eu ainda me lembrava do que ouvira tempos atrás. Do perigo de baixar-se a guarda, de se entregar sem reservas. Que mostrar-me nu e desprovido de forças faria você querer partir, e eu não queria lhe ver partir
Então, para não lhe ver partir, mais uma vez, eu fui quem não era. Ao invés de mostrar quem eu sou, tentei me transformar naquilo que eu cria que você gostaria que eu fosse. Se a força de nada valera, o poder haveria de contar. Então lhe mostrei meu poder impondo minha vontade sobre todas as coisas. E, diante de meu poder, mais uma vez, você não me negou seu amor, nem tampouco seu calor. E com o sorriso pouco discreto de quem consertou o que parecia não ter conserto, andava pelas ruas com a certeza de quem se sabe feliz. Nos céus ressoavam salvas de tiros que a minha imodéstia não me permitiu fingir não saber do que se tratava.
Porém, quando o sol nasceu para mais um novo dia, mais uma vez seus braços estavam longe de meu abraço, seu cheiro se desvanecera no espaço vazio que o mundo se tornara. E me vi, novamente, a vagar e divagar pelas ruas, ainda sem entender o porquê.

Na terceira vez que meus olhos encontraram os seus, eu já não sabia no que acreditar. Não conseguia entender por que o mundo continuava sempre a nos colocar frente a frente, pois, a despeito de todo o meu medo de lhe ver partir, você sempre partia.
Então, já que era pra lhe ver partir, que fosse pela vez derradeira. Já não me importava com o que ouvira falar, com o que fosse certo ou errado. Assim rasguei meu peito e deixei sangrar, certo de que, diante desta visão, você me negaria seu amor e seu calor... Tinha agora no rosto o sorriso triste de quem sabe que perdeu.
Nenhum anjo desceu dos céus pra presenciar este momento, não houve salva de tiros a anunciar a chegada de um novo tempo. O mundo não se dignou a um minuto de silêncio em homenagem ao amor que se compadecia alquebrado, e seguiu seu rumo com suas mazelas e alegrias.

Todavia, quando a alvorada surgiu novamente, seus braços ainda permaneciam entrelaçados aos meus. Seu cheiro havia encontrado abrigo em meu corpo. Seu gosto misturara-se ao meu gosto. Seus olhos eram o porto seguro de meu olhar...

Autoria: Stive Ferreira

PS.*Leio e releio esse texto e não enjôo. Lindíssimo!

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