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28 de abril de 2010

A Flor e a Náusea, de Carlos Drummond de Andrade

Preso à minha classe e a algumas roupas,
vou de branco pela rua cinzenta.
Melancolias, mercadorias espreitam-me.
Devo seguir até o enjôo?
Posso, sem armas, revoltar-me?

O tempo pobre, o poeta pobre
fundem-se no mesmo impasse
Em vão me tento explicar, os muros são surdos
Sob a pele das palavras há cifras e códigos.
O sol consola os doentes e não os renova
As coisas. Que tristes são as coisas, consideradas sem ênfase.

Vomitar esse tédio sobre a cidade,
Quarenta anos e nenhum problema
resolvido, sequer colocado.
Nenhuma carta escrita nem recebida.
Todos os homens voltam para a casa.
Estão menos livres mas levam jornais
e soletram o mundo, sabendo que o perdem.

Sua cor não se percebe.
Suas pétalas não se abrem.
Seu nome não est'nos livros.
É feia. Mas é realmente uma flor.

Sento-me no chão da capital do país às cinco horas da trade
e lentamente passo a mão nessa forma insegura
Do lado das montanhas, nuvens maciças avolumam-se
Pequenos pontos brancos movem-se no mar, galinhas em pânico.
É feia. Mas é uma flor. Furou o asfalto, o tédio, o nojo e o ódio.

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