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3 de fevereiro de 2010

Monteiro Lobato - O Gato e a Raposa

Gato e raposa andavam de sociedade a correr o mundo, pilhando capoeira e ninhos. Muito amigos, apesar de que a raposa volta e meia dava trela à gabolice, depreciando o compadre.
-- Afinal de contas, meu caro, não és dos bichos mais bem aquinhoados pela natureza. Só tens um truque para iludir os cães: trepar em árvores.
-- E é quanto me basta. Vivo muito bem assim e não troco esta minha habilidade pela tua coleção inteira de manhas.
A raposa sorriu compassivamente. Ora, o gato a desfazer dela, dona de cem manhas, cada qual melhor! E recordou lá consigo que sabia iludir os cães de mil maneiras, ora fingindo-se morta, ora escondendo-se nas folhas secas, já disfarçando as pegadas, já correndo em ziguezague. Recordou todos os truques clássicos. Enumerou-os. Chegou a contar noventa. E chegaria a contar cem, se o rumor duma acuação lhe não viesse interromper os cálculos.
-- Eis aí a tua cachorrada – disse o gato, marinhando pela árvore acima. – Aplica lá teus inúmeros recursos, que o meu recursozinho único já está aplicado.
A raposa, perseguida de perto, disparou como um foguete pelos campos afora, pondo em prática, um por um, todos os recursos da sua coleção.
Mas foi inútil. Os cães eram mestres; não lhe deram trégua, inutilizam-lhe as mais engenhosas manhas e acabaram por ferrá-la.
Só então se convenceu  -- muito tarde!... – de que é preferível saber bem uma coisa só a saber mal noventa coisas diversas.

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