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5 de fevereiro de 2010

Fernando Portela - A fábula do lobo traficante

A sociedade dos cordeiros condenou aquele lobo a 20 anos de prisão. Era terrível o seu crime: tráfico de entorpecentes. Por sua causa, milhares de cordeirinhos destruíram suas vidas. O lobo era o inimigo público n.º 1.
Vinte anos depois, apesar desse  e de outros lobos-traficantes terem sido presos, a sociedade dos cordeiros estava mergulhada no vício. Era um problema de segurança nacional. Talvez por isso, um repórter resolveu entrevistar aquele lobo, à saída da penitenciária. Estaria ele arrependido? Teria consciência do que provocara? Sentia-se injustiçado?
Afinal, a sociedade dos cordeiros cumprira, rigorosamente, a Lei. Só que alguma coisa estava errada. Lobos-traficantes eram presos todos os dias, enquanto aumentava o consumo de tóxico. Qual a opinião de um lobo que pagou 20 anos por um dos piores crimes contra a humanidade?

- Você quer mesmo saber? – foi logo falando o lobo. – O problema não se restringe a mim, nem aos que me seguiram nessa profissão. Eu cometi parte do crime, reconheço, comercializando um produto proibido . . .
- E quem cometeu a outra parte? – indagou o repórter, ele próprio irritado com a desfaçatez do lobo.
- Ora, a sociedade dos cordeiros! – afirmou o lobo. – Acaso fui eu que provoquei a corrida ao tóxico? Como seria possível eu me tornar um traficante, se não houvesse procura do meu produto?
“ Isso faz sentido”, pensou o repórter. E arriscou uma outra pergunta:
- Mas dificilmente a sociedade dos cordeiros concordará que tem parte dessa culpa. Para isso, seria necessário que cada cordeiro, em particular, meditasse sobre sua própria vida e o que considera melhor para o seu rebanho. Mas você sabe que meditar, refletir, ponderar e se auto-analisar é muito difícil, quando há tantos lobos à disposição para assumir todas as culpas.
Quando a entrevista com o lobo-traficante foi publicada, a sociedade dos cordeiros reagiu: os lobos são criminosos irrecuperáveis, cínicos, arrogantes e diversionistas.
Para eles, só mesmo a  Pena de Morte.

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