Língua Portuguesa.Exercícios de português.Exercícios de Gramática.Literatura Brasileira.Interpretação de Texto.Resumos de literatura

14 de fevereiro de 2010

Carlos Drummond de Andrade - Correio

A grande hora da chegada do Correio.
Ninguém te escreve, mas que importa?
Correio é belo de chegar.
Surge no alto da ladeira
A mula portadora de malas,
Trazendo o mundo inteiro no jornal.
O Agente do Correio está a postos
Com os filhos funcionários a seu lado.
É família postal há muitos anos
Consagrada a esse ofício religioso.
As malas borradas de lama
Com registrados e impressos
Que a chuva penetrante amoleceu
Abrem-se perante os destinatários
Como flores de lona
Vindas de muito longe.

Cada família ou firma tem sua caixa aberta
Onde se deposita a correspondência
Mas bom é recebê-la fresquinha das mãos de Sô Fernando,
Que negaceia,
Brinca de sonegar a carta urgente:
-- Hoje não tem nada pra você.
-- Mas eu vi, eu vi na sua mão.
-- Engano seu. Quer um conselho?
Vai apanhar tiziu, que está voando, lá fora.

Ver abrir a mala é coisa prima.
Traz as revistas de sábado
Com três dias de viagem morro acima
Abaixo acima, e o cheiro liso do papel
Invadindo gravuras: Duque dança,
As barbas de Irineu bolem na brisa do Senado,
E na Rússia o czar Nicolau tem o olhar vago
De quem vai ser fuzilado e ainda não sabe.

Tudo chega na hora do Correio.
A mula é mensageira do Fato,
E sabe antes de nós toda a terrestre aventura.
Mal comeu sua cota de milho,
Já prossegue rumo do Itambé,
Levando o mundo.

Nenhum comentário:

Postar um comentário